Este é o primeiro de uma série de posts em que vamos explorar a reologia dos principais preenchedores disponíveis no Brasil — marcas como Biogelis, Rennova, Restylane, Juvederm, Saypha e Belotero. Nosso objetivo é entender, de forma clara e aplicada, como os princípios reológicos influenciam no resultado estético e na segurança dos tratamentos.
No mês passado, tive a honra de visitar a fábrica da Pharmaesthetics, no Paraná, e pude ver de perto todo o cuidado técnico, controle de qualidade e comprometimento com inovação. Foi uma visita enriquecedora que reforçou minha admiração pela empresa, que entrega tecnologia e segurança ao mercado estético nacional.
O que é Reologia?
A reologia é a ciência que estuda a deformação e o fluxo de materiais. No contexto dos preenchedores de ácido hialurônico, nos ajuda a entender:
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como o gel se comporta sob pressão e movimento;
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se ele “escorre” ou permanece firme;
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como responde às forças de compressão e tração no tecido;
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sua integração com a pele e estrutura subjacente.
Principais conceitos reológicos
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Viscosidade (fluidez): resistência ao escoamento.
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Elasticidade (G’): capacidade de recuperar forma após deformações.
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Coesividade: tendência das moléculas do gel a ficarem unidas, evitando migração.
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Swelling Factor (fator de inchaço): quanto o gel absorve água após a aplicação.
Esses parâmetros combinam-se para definir se um preenchedor será melhor para linhas finas, áreas suaves de contorno ou regiões que exigem projeção/estrutura.
Linha Biogelis®
A linha Biogelis®, da Pharmaesthetics, é composta por géis monofásicos de ácido hialurônico reticulado, com 0,3 % de lidocaína em sua formulação.
Cada versão é pensada para uma indicação específica, mas todas compartilham características como produção 100% brasileira, controle rigoroso de qualidade e tecnologia avançada de reticulação. Segundo o fabricante, cada embalagem contém 2 seringas com gel (1,0 ml ou 1,25 ml cada, dependendo da versão) (Fontes: pharmaesthetics.com.br, loja.pharmaesthetics.com.br,).
Um dos diferenciais da linha é a baixa força de extrusão: ou seja, o profissional não precisa aplicar muita pressão para liberar o produto da seringa, o que garante mais conforto no procedimento e maior precisão de aplicação.
Outro ponto positivo é o fato de serem géis monofásicos, que apresentam excelente integração com os tecidos, maior maleabilidade e naturalidade no resultado, mesmo possuindo boa densidade de reticulação.
O que significa essa reticulação (cross-linking)?
A reticulação está diretamente ligada ao processo de crosslinking, no qual o ácido hialurônico é quimicamente modificado para formar uma rede tridimensional estável.
Esse processo é realizado utilizando o BDDE (1,4-butanodiol diglicidil éter), um agente reticulante que cria ligações cruzadas entre as cadeias de ácido hialurônico. O resultado é um gel que mantém sua forma por mais tempo, apresentando propriedades reológicas adequadas e, principalmente, resistência à degradação enzimática promovida pela hialuronidase.
A hialuronidase é uma enzima endógena do grupo das glicosidases, responsável por quebrar naturalmente o ácido hialurônico presente na matriz extracelular, regulando a viscosidade, a permeabilidade e a hidratação dos tecidos. É justamente a ação fisiológica dessa enzima que faria um ácido hialurônico não reticulado ser degradado rapidamente, o que torna o processo de reticulação essencial para garantir durabilidade clínica.
Após essa etapa, a Biogelis passa por um processo rigoroso de purificação, que remove o excesso de BDDE residual.
A legislação brasileira permite até 2 ppm (partes por milhão) de BDDE em preenchedores de ácido hialurônico, mas os lotes da Biogelis alcançam níveis até cinco vezes menores que esse limite, reforçando sua segurança, pureza e confiabilidade.
A seguir, versão por versão:
Biogelis Fine Lines with Lidocaine

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Apresentação: 2 seringas de 1,0 ml (cada) (17,5 mg/mL de ácido hialurônico reticulado + 0,3% de lidocaína)
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Indicação: linhas finas, rugas superficiais, aplicação na derme profunda.
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Perfil reológico estimado: mais fluido, baixa elasticidade — ideal para integração sem projeção.
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Registro ANVISA: 81872460011.
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Minha Nota clínica: uso ideal em casos onde queremos suavidade, refinamento de sulcos leves, sobretudo em pacientes que buscam naturalidade e mínima intervenção.
Biogelis Global with Lidocaine

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Apresentação: 2 seringas de 1,0 ml (algumas fontes também mencionam possibilidade de 1,25 ml por seringa) 20 mg/mL de ácido hialurônico reticulado + 0,3% de lidocaína
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Indicação: reposição volumétrica da face média (região malar, bochechas, contorno), suturas leves de suporte.
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Perfil reológico estimado: equilíbrio entre viscosidade e elasticidade — ideal para sustentação moderada e naturalidade.
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Registro ANVISA: 81872460009.
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Minha prática clínica: Gosto de usar o Global para refinar sulcos menos marcantes e também para lábios mais naturais — especialmente em pacientes de “primeira viagem” ou mais maduras, onde não quer exagerar no volume.
Biogelis Volume with Lidocaine

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Apresentação: 2 seringas de 1,0 ml cada (25 mg/mL de ácido hialurônico reticulado + 0,3% de lidocaína)
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Indicação: sustentação, contorno em queixo, mandíbula, áreas de perda volumétrica acentuada.
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Perfil reológico estimado: mais denso, com elasticidade significativa — bom suporte sem perder integração.
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Registro ANVISA: 81872460010.
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Sua prática clínica: o Volume é seu “coringa” — ele permite atuar em várias regiões faciais, usar em planos subcutâneo e gordura profunda, e inclusive entregar lábios bem volumosos quando necessário.
🔹 Biogelis Volumax with Lidocaine
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Apresentação: 2 seringas de 1,0 ml cada. (25 mg/mL de ácido hialurônico reticulado + 0,3% de lidocaína)
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Indicação: contorno e projeção do terço inferior da face (mandíbula, queixo), correção de assimetrias estruturais.
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Perfil reológico estimado: alta elasticidade (alto G’), excelente para projeção e definição estrutural.
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Registro ANVISA: 81872460013.
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Sua prática clínica: para você, o Volumax é um “excelente estruturador” — entrega projeção robusta e definição no terço inferior como poucos no mercado fazem.
Tabela Resumo – Linha Biogelis (versão atualizada)
| Produto | Apresentação (seringas) | Indicação principal | Perfil reológico (estimado) | Registro ANVISA |
|---|---|---|---|---|
| Fine Lines | 2 × 1,0 ml | Linhas finas, rugas superficiais | Fluido, baixa elasticidade, integração suave | 81872460011 |
| Global | 2 × 1,0 ml (possível 1,25 ml) | Face média, contorno leve | Equilíbrio viscosidade × elasticidade | 81872460009 |
| Volume | 2 × 1,0 ml (possível 1,25 ml) | Sustentação, queixo, mandíbula | Mais denso, elasticidade moderada | 81872460010 |
| Volumax | 2 × 1,0 ml (possível 1,25 ml) | Projeção e definição do terço inferior | Alto G’, forte estrutura e projeção | 81872460013 |
Conclusão
Escolher o preenchedor ideal vai muito além da marca: é necessário entender os fundamentos reológicos e alinhar isso com as necessidades específicas de cada paciente.
Com a linha Biogelis®, temos um portfólio coeso e nacional:
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Fine Lines para refinamento e sutileza,
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Global como opção versátil para volume equilibrado e naturalidade,
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Volume como “coringa” para estruturar múltiplas regiões e até lábios volumosos,
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Volumax para projeção e definição no terço inferior robusta.
Na minha prática:
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uso o Global para sulcos moderados e lábios mais naturais (especialmente em pacientes iniciais ou maduros);
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emprego o Volume como ferramenta flexível para várias regiões e com capacidade de volumização;
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e recorro ao Volumax quando preciso de estrutura, projeção e definição como poucos preenchedores conseguem oferecer.





