Você já ouviu falar que o corpo pode “criar resistência” à toxina botulínica, como se ela virasse uma vacina? Esse fenômeno, popularmente chamado de “efeito vacina”, é motivo de preocupação entre alguns pacientes e até profissionais. Mas será que isso realmente acontece nos tratamentos estéticos?
A ciência diz: na estética, esse risco é praticamente inexistente — e neste post vamos te explicar o porquê.
O que é o “efeito vacina”?
O termo se refere à formação de anticorpos neutralizantes (nABs) contra a toxina botulínica tipo A (BoNT-A). Quando isso acontece, o corpo “bloqueia” a ação da toxina, e o paciente para de responder ao tratamento. Parece sério? Sim, mas é um evento raríssimo em tratamentos com finalidade estética.
O que diz a ciência?
Estudos clínicos e revisões sistemáticas mostram que:
- A chance de desenvolver anticorpos neutralizantes em tratamentos estéticos é menor que 1%.
- Esse risco é mais associado a tratamentos terapêuticos, como em distonias, espasticidade e enxaqueca, que exigem doses altas e frequentes.
- Produtos de nova geração, como Xeomin® (incobotulinumtoxinA), não contêm proteínas complexantes, que são os principais desencadeadores de resposta imune. Assim como Botox e Dysport também passaram por mudanças.
- Mesmo pacientes com anticorpos em testes laboratoriais, muitas vezes ainda respondem clinicamente à toxina.
Por que isso não acontece em estética?
Os protocolos estéticos seguem “padrões” que evitam totalmente o estímulo imune excessivo:
Doses menores: geralmente de 20 a 70 unidades por sessão
Intervalos seguros: respeitam o tempo mínimo de 3 a 4 meses
Técnica correta: evita retoques desnecessários e repetições fora de tempo
Casos de resistência existem, mas são diferentes
Quando um paciente relata que “a toxina não pegou”, na maioria das vezes não se trata de resistência imunológica, mas sim de:
- Dose abaixo do necessário
- Técnica ou profundidade inadequada
- Diluição incorreta
- Produto mal armazenado ou mal reconstituído
- Intervalo insuficiente entre aplicações anteriores
A “culpa” muitas vezes está no protocolo, e não no paciente.
Como evitar qualquer risco?
Aqui vão as regras de ouro:
Prática | Impacto na imunogenicidade |
---|---|
Usar toxinas puras* | Diminui significativamente o risco |
Respeitar intervalo mínimo de 3 meses | Evita estímulo excessivo ao sistema imune |
Evitar doses ou retoques desnecessários | Minimiza carga antigênica cumulativa |
Técnica qualificada | Garante eficácia e reduz falhas de aplicação |
Embora a Dysport® (abobotulinumtoxinA) não tenha passado por uma reformulação oficial como a ocorrida com o Botox® em 1997, seu processo de produção foi aprimorado ao longo dos anos, especialmente nos métodos de purificação, como cromatografia e diálise. Essas melhorias visam reduzir impurezas e proteínas complexantes parcialmente degradadas, como a flagelina, que têm potencial imunogênico. Ainda assim, tanto Dysport quanto Botox continuam contendo proteínas complexantes em sua composição, o que as diferencia das toxinas chamadas “puras”, como Xeomin®.
No entanto, é importante destacar que, mesmo não sendo consideradas toxinas purificadas, Botox e Dysport seguem sendo seguras, eficazes e amplamente utilizadas no mundo todo, tanto em aplicações estéticas quanto terapêuticas. A escolha da toxina ideal deve considerar o perfil do paciente, a experiência do profissional e o entendimento técnico sobre cada formulação.
Comparando as toxinas
Produto | Proteínas complexantes | Potencial imunogênico | Observações |
---|---|---|---|
Botox® | Reduzidas (mas presentes) | Baixo (com uso estético) | Reformulado em 1997 |
Dysport® | Presentes | Baixo (com uso estético) | Contém flagelina, mais disperso |
Xeomin® | Ausentes | Muito baixo | Purificado (só a toxina ativa) |
Conclusão
Tanto Botox quanto Dysport evoluíram, especialmente o Botox, que foi reformulado para reduzir a imunogenicidade. Porém, ainda contêm proteínas complexantes, ao contrário de Xeomin® que hoje é a opção com menor risco imunológico — especialmente importantes para quem faz uso contínuo da toxina.
O “efeito vacina” é um conceito real na medicina, mas na estética, ele é mais mito do que fato. Seguindo as boas práticas, escolhendo o produto certo e respeitando o intervalo entre aplicações, o risco de imunorresistência é praticamente nulo.
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